terça-feira, 12 de junho de 2012

Estudantes miram o Brasil e não acertam nem na sala ao lado

Não quero dar a impressão de que me oponho à atual gestão do Cageo ou que desvalorizo o trabalho que está sendo feito por essa entidade. Acho elogiável que haja alunos dispostos a trabalhar de graça para fazer as coisas acontecerem na universidade, seja promovendo atividades acadêmicas, como palestras e mesas-redondas, debatendo questões profissionais ou representando os estudantes na discussão de temas que são de seu interesse, como reformas curriculares. Eu mesmo participei do centro acadêmico, eras geológicas atrás, mas acabei desanimando, por motivos que já comentei neste blog. 


Nesse sentido, meu objetivo aqui é apenas destacar que as organizações de representação estudantil, assim como a própria academia, padecem de distorções causadas por um militantismo político-ideológico que distorce os objetivos da pesquisa, do ensino e das atividades de representação. É com vistas nesse objetivo mais geral que vou escrever algumas palavras sobre o comentário feito pelo aluno Nathan, membro do nosso Cageo, no post Adesão dos alunos de Geografia Econômica à greve foi de uns 75%. Inicialmente, ele admite que as reuniões efetuadas pelo Cageo para discutir a adesão dos alunos à greve estavam esvaziadas e que, por conta disso, grande parte dos estudantes deve mesmo ter deixado de fazer prova por razões não políticas. Mais à frente, ele afirma: 
Sobre UNE e UBES, não negamos sua representatividade, mas sabemos como funcionam. Isso precisa ser mudado, mas a reforma deve vir de baixo, se ainda temos problemas no nosso pequeno núcleo do Centro Acadêmico, devemos consertar primeiro está ao nosso alcance.
O argumento faz sentido, mas, se olharmos a programação da Semana Nacional de Lutas da Geografia 2012, organizada pelo Cageo, fica bem claro que a entidade se concentrou em debater temas políticos de âmbito nacional. De fato, os dois eixos que estruturam o evento são “a Privatização da Universidade (por meio das Parcerias Público-Privadas) e a recorrente Criminalização dos Movimentos Sociais”. Se há necessidade de “consertar primeiro o que está ao nosso alcance”, não seria melhor fazer um evento focado em questões ligadas à profissão de geógrafo, ao ensino de geografia e ao curso de geografia da UFPR? 

Além disso, é interessante observar que a definição dos temas e a justificativa de sua importância, no blog do evento, mostram que o Cageo já tem uma conclusão fechada sobre as parcerias e a dita “criminalização”, de modo que as atividades previstas serviam para divulgar tais conclusões e convencer as pessoas de que elas estão corretas, não para debater pontos de vista opostos. E os nomes das pessoas convidadas a participar só reforçam essa avaliação que faço dos objetivos do evento: Bruno Meirinho, ex-candidato do PSOL à prefeitura de Curitiba, e Claus Germer, um marxista ortodoxo para quem o fracasso do socialismo soviético se deu apenas por “falta de experiência” (sic!). Dentre aqueles participantes que eu não conheço, havia alguém para defender as parcerias público-privadas ou para criticar as ações violentas e ilegais promovidas pelos ditos “movimentos sociais”? Se tinha alguém para mostrar o outro lado, por favor, me contem. 

Nesse contexto, o que se depreende do comentário do Nathan é que, embora o Cageo reconheça que as entidades de representação estudantil possuem problemas de funcionamento, e embora o Cageo se esforce para divulgar ideias políticas de alcance nacional, escolhe poupar a UNE e UBES de críticas nos eventos que organiza. Talvez o Cageo ache que a melhor estratégia política para transformar o país – pretensão típica de todas as organizações de estudantes – é debater os problemas dessas entidades longe da opinião pública, e como tema secundário, para poderem se concentrar nas grandes questões nacionais. O resultado dessa opção é que o Cageo não exerce papel relevante na política nacional (como não poderia deixar de ser), não contribui para democratizar a UNE, nem para dar transparência ao uso que essa entidade faz das dezenas de milhões de Reais que recebe dos cofres públicos todos os anos, além de deixar em segundo plano a discussão daqueles temas profissionais e acadêmicos que estão de fato ao alcance da entidade. 

EM TEMPO 

Eu gostaria de ter assistido à Oficina de Agroecologia organizada pelo Cageo nesse evento, mas acabei não tendo tempo. Teria sido útil para a disciplina que eu leciono na Especialização, cabendo-me, assim, elogiar a iniciativa. Se bem que, na visão dos organizadores, especializações pagas são uma forma de privatização do ensino...

2 comentários:

  1. Olá Professor,

    Agradeço pela atenção e pela resposta, acho fundamental esse contato entre Professores e estudantes e o debate existente. Acredito que sempre seja válido absorver os pontos positivos citados e até mesmo a crítica sobre a Semana Acadêmica, que, realmente é algo a ser pensado. Estamos buscando maneiras de atrair os estudantes ao Centro Acadêmico e é sempre bom ouvir as críticas existentes para que possamos saber onde estamos pecando e que isso possa ser mudado.

    Abraços

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  2. Pois é, professor. É por aí mesmo. As pessoas que comparecem a assembleia são sempre as mesmas porque as que vão nas primeira as vezes quando apresentam argumentos contrários ou opiniões diferentes são fortemente "cortados", mas isso não é exclusividade do CAGEO, é quase que geral nos CA's da UFPR. Ainda conheço alguns amigos que vão em reuniões e sempre pergunto a eles o porquê de eles ainda irem, sendo que tudo já está praticamente decidido e o que ocorre de fato é uma "falsa" democracia onde você vai dar a sua opinião, mas ninguém vai ouvir ou ao menos refletir. Mas isso é até que normal, nosso CA nem é tão fechado assim, já vi piores em outras universidades pelo Brasil.

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