quinta-feira, 27 de junho de 2013

Vamos pesquisar a doutrinação ideológica nas universidades? Eu topo trabalhar de graça

Uma pesquisa realizada pelo CNT/Sensus, e complementada por levantamento feito em 130 livros e apostilas de história e de geografia, demonstrou cabalmente a prática da doutrinação ideológica no ensino médio brasileiro. Diante das evidências de doutrinação que existem também para o ensino superior, nada melhor do que fazer uma pesquisa semelhante em nossas universidades. Já existe até uma experiência internacional que podemos tomar por base.


No final de novembro de 2004, com efeito, divulgaram-se os resultados de uma pesquisa elaborada pelo American Council of Trustees and Alumni – ACTA para avaliar a politização e partidarização do ensino superior nos EUA. A pesquisa foi aplicada nos 25 “colleges” e 25 universidades que ocupam as melhores posições na classificação do U.S. News & World Report, sendo que, devido a sobreposições nos rankings dos dois tipos de instituições de ensino, a amostra incluiu ao todo 26 universidades. O número de estudantes entrevistados foi de 658, e os dados produzidos apresentam uma margem de erro de 4% para mais ou para menos. Resumidamente, os resultados foram os seguintes:
  • 49% dos estudantes afirmaram que os professores frequentemente inserem comentários políticos em seus cursos, mesmo quando eles não têm nada a ver com o assunto tratado; 
  • 29% sentem que devem concordar com a visão política do professor para conseguir boas notas; 
  • 48% relataram que as exposições feitas pelos professores sobre temas políticos “parecem totalmente unilaterais”; 
  • 46% disseram que os professores “usam a sala de aula para apresentar visões políticas pessoais”, embora a maior parte dos entrevistados estudasse em áreas que não têm a política como objeto, tais como Biologia, Engenharia e Psicologia; 
  • A pesquisa, realizada pouco antes e depois de uma eleição presidencial, apurou que 68% dos estudantes afirmam que seus professores fizeram comentários negativos sobre o presidente George W. Bush em sala de aula, ao passo que 62% relataram que os professores elogiaram o senador John Kerry, candidato oposicionista; 
  • 42% acusaram as leituras designadas para as disciplinas de apresentar apenas um tipo de interpretação para temas controversos;

Seria extremamente oportuno que uma pesquisa desse tipo fosse realizada nas universidades brasileiras, pois é bastante provável que a politização e partidarização se mostrassem ainda maiores do que no caso norte-americano. Provavelmente, é a hegemonia esquerdista existente nos meios universitários brasileiros que explica a inexistência de pesquisas semelhantes à do ACTA sendo feitas por aqui, visto que a homogeneidade das formas de pensar reduz o interesse de questionar condutas a elas relacionadas. Deve explicar também a razão de a universidade brasileira, que não se preocupa em discutir se há unilateralismo e partidarização nos conteúdos das aulas, vir se dedicando a policiar a imprensa com pesquisas e publicações que cobram pluralismo dos grandes jornais, embora certas análises produzidas com base nessas pesquisas sejam claramente favoráveis ao PT e, portanto, partidárias (Diniz Filho, 2013).

Alguém se interessa?

Para que uma pesquisa desse tipo seja realizada no Brasil, falta quem se disponha a financiar. Um tempo atrás, tratei dessa possibilidade com o grupo de discussão do site Escola Sem Partido, e até elaborei uma proposta preliminar de questionário tomando a pesquisa do ACTA como modelo. O custo estimado era de R$ 200 mil, mas não apareceu nenhuma entidade interessada em bancar. E eu mesmo não iria ganhar nada, visto que trabalhei no questionário só para que se pudesse montar um projeto de pesquisa.
Acho que eu devia me dedicar a escrever livros didáticos de ensino médio pautados pela geocrítica e pelo socioconstrutivismo (os dois termos designam a mesma coisa, na verdade). Ao menos no Brasil, não há jeito melhor do que esse para ganhar dinheiro com geografia...

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DINIZ FILHO, L. L. Por uma crítica da geografia crítica. Ponta Grossa: Editora da UEPG, 2013.

7 comentários:

  1. No seu "Era dos Extremos", Eric Hobsbawm, tão lido no Brasil, falsifica a história para absolver Stálin. Sua versão da 2ª Guerra foi aquela fabricada em Moscou.

    "Xico Graziano, em seu livro O carma da terra no Brasil, qualifica a política nacional de reforma agrária como um “fracasso retumbante”. Isso ocorre, de um lado, porque o Brasil do latifúndio deixou de existir faz uns 50 anos, devido à modernização das grandes propriedades. De outro lado, os assentamentos de reforma agrária exibem produtividade baixíssima e não geram renda suficiente nem para tirar os assentados da pobreza".


    Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=1280588&tit=A-escola-a-servico-do-MST

    Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/71146-o-esqueleto-que-sorri.shtml


    É por esses e outros motivos que não trabalho e não leio mais nada da vertente marxista, além de defasada em mais de 50 anos em relação à produção teórica-metodológica da Geografia ocidental. Enfim, há um tempinho já ando revendo muita coisa sobre isso e pensando in loco, colado na realidade e lendo de tudo um pouco. Pois fizeram tanto alarde contra os pragmatismos e determinismos e os próprios se utilizam de tais instrumentos para "espremer" uma explicação da realidade...

    O que chama a atenção é o fato da fetichização e o coquetel ideológico que é montado no e sobre o espaço, pois se até a História anda comprometida imagina então... É preciso rever muita coisa, não é mesmo?

    Tem muito "socioconstrutivista" com ares marxistas ganhando uma graninha por aí para influenciar e vender livretos para instituições públicas de ensino... De mãos abraçadas seguem o "tal" do capitalismo, criticam-no, produzem "seguidores" e se esquecem que a economia brasileira é assim e a do mundo também.

    Bom... Enquanto esses ficam pensando em formas de conspirar e dar um "reset" na formação social para resolver os problemas das desigualdades ou tomar o Poder para "testar" o socialismo, os gurus administradores e economistas estão resolvendo os problemas da competitividade brasileira e propondo soluções de médio e longo prazo, mesmo que isso custe algumas doações, pois são recíprocas para o desenvolvimento e crescimento econômico do país. Do qual, ao que tem indicado, os marxistas sabem usar muito bem. Basta ver o consumo dos "Che".

    Dizem-se marxistas e se aproveitam do sucesso destes. Vai entender... São os brasileiros quem nada tem a ver com tudo isso e quem pagam a conta, por meio do IPTU, ISSQN... Sorte que ainda tem pragmáticos trabalhando em prol do mercado, se não... Seríamos um país agrícola, caso não fosse um ato político no passado?

    É como eu tinha dito em 2012, "Raffestin (1993) ao discutir as dimensões de poder já
    apontava para diversas inclinações sobre a territorialidade e o território, no sentido a
    ser concluído, o espaço ganha novos contornos de poderes que refletem diretamente na divisão social e territorial do trabalho que os territórios assumem ao se inserirem cada vez mais nas redes de comércio econômico". Ou seja, aplica-se bem ao exemplo do "MST", pois entraram deliberadamente na rede econômico financeira que eles tanto criticam e depois vêm reclamar e falar asneiras do mercado quando não sabem administrar suas produções?

    Por meio do IPTU, ISSQN... A gente paga a conta dessa patota toda!

    Tomatadas nesses professores de "Geografia"!

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  2. Caro Luis,
    agradeço pelo destaque dado ao meu comentário na sua postagem anterior. Procurarei adquirir seu livro para ver aqueles pontos que mencionei trabalhados de forma mais detida, e também porque é sempre um alívio saber que existem outras pessoas que não apenas percebem estes absurdos como os criticam.
    Pergunto-me se o CNPq ou a CAPES financiariam um projeto de pesquisa, ainda que com um foco restrito, sobre este tópico em particular. Poderia estar impecável, mas acredito que seria barrado em algum ponto do processo de avaliação. E depois haveria algum tipo de resistência por parte dos "pesquisados" - como você já sublinhou aí acima, com a hegemonia do pensamento de esquerda. Aliás, isto me lembra um comentário que li uma vez na Folha de São Paulo, não me recordo da matéria, mas o que a pessoa disse foi marcante: "Na Coréia do Sul não leem Paulo Freire e é por isto que nós precisamos comprar nosso metrô lá". O mal que este tipo de pensamento tem causado ao país, em várias esferas (econômica, cultural), é imenso. Não sei se é possível fazer algo além de lamentar esta situação. Infelizmente parece que não temos uma alternativa viável, somente escolhas entre Estado ou mais Estado; esquerda ou extrema esquerda (como todas estas "manifestações" pelo país deixaram bem claro). Leio alguns textos em blogs de liberais e conservadores que possuem uma lucidez muito maior que as obras intragáveis de alguns e historiadores e cientistas sociais (peço licença para me remeter as minha áreas), mas não sei se eles possuem algum alcance e se têm força o bastante para competir com os sentimentalismos pueris na meia dúzia de palavras de ordem socialistas que se disseminam tão facilmente pela internet (Facebook particularmente) e ganham a simpatia e adesão de gente que, em princípio, não daria muita atenção. Mas quando se tem um terreno fértil, já preparado por aquela doutrinação que já nos é tão familiar, somado a um comportamento tipicamente consumista (ou seja, consumir ideias e posturas políticas que são legais, cool, progressistas), não há muito espaço para um pensamento divergente.
    Não sei se um projeto de pesquisa seria viável, mas talvez uma espécie de think tank como o do Instituto Millenium, voltado para formas de reflexão menos comprometidas com o pensamento de esquerda na área de geografia, história, ciências humanas em geral, já seria um bom começo.

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    1. Realmente, eu fiz um estudo panorâmico para mostrar os estragos que o dito "pensamento crítico" tem feito na academia, nos debates públicos e na escola, embora só tenha detalhado a discussão no caso da geografia. E com destaque maior para o ensino médio, questão que ocupou quase dois capítulos inteiros. Creio que é sobretudo na escola que a teoria social crítica causa maiores danos, pois influencia significativamente na formação de consensos políticos de esquerda.

      E, assim como você, também acho dificílimo que uma instituição pública se disponha a custear uma pesquisa sobre doutrinação na universidade. Aquele orçamento de R$ 200 mil que eu mencionei foi estimado por um contato que o coordenador do Escola Sem Partido fez com um instituto de pesquisa privado - acho que foi o Sensus -, e a nossa ideia era tentar conseguir recursos de alguma instituição como o Millenium mesmo. Só que ninguém se interessou, então ficou por isso mesmo.

      Mas eu não me queixo, não. O Millenium tem feito um bom trabalho, e não há recursos para agir em todas as frentes ao mesmo tempo. O negócio é ir fazendo um trabalho de formiga. Um escreve um texto de refutação da geografia crítica, outro faz um contra a história crítica, e assim vai indo.

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  3. Professor, existe algum autor ou publicação na área de Geografia, voltados para o ensino fundamental e médio, que tratem da mesma sem a perspectiva crítica marxista? Passei toda a minha vida lendo livros didáticos - com o título pomposo de "Geografia Crítica" - que talvez não tenha a sensibilidade para enxergar uma publicação que não tenha essa perspectiva doutrinadora.

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    1. Eu realmente não conheço. Um aluno me disse, faz pouco tempo, que Demétrio Magnoli lançou um novo livro didático de Geografia, mas eu ainda não fui conferir. O primeiro livro didático que ele publicou, faz uns vinte anos, foi redigido na época em que ele ainda partilhava das ideias da geocrítica - embora, já então, na vertente antimarxista. Se ele publicou um novo livro agora, creio que poderá ser o que você está procurando, já que o modo de pensar dele mudou muito de lá para cá.

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  4. Quando vai da uma tomatada no Slavoj Zizek, estamos no aguardo. Nao sei mas parece que a esquerda da migrante p uma analise desse tipo, meio misturada e vinculada a outros movimentos.

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    1. Esse terrorista de gabinete está na minha mira faz tempo. Mas sempre aparece outro assunto que acaba me ocupando e, aí, acabo deixando essa tomatada para depois. Vou ver se escrevo algo sobre ele na próxima semana - até porque, um esquerdista que legitima o terrorismo internacional tem tudo a ver com o que tenho discutido neste blog desde junho.

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