quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Bolsa Família em seu devido lugar. Ou: mentiras petralhas nos comentários - 2

Respondo agora a mais algumas mentiras que publicaram como comentário ao post Relembrando o "modelo econômico" que era "contra tudo o que está aí", conforme se lê abaixo: 
O FHC não fez uma política de transferência de renda, já o governo do PT é reconhecido no mundo inteiro pelo bolsa família e essa transferência de renda ajudou o enfrentamento da crise, pois alimentou a economia das pequenas cidades [...].
Muitíssimo pelo contrário! Quem instituiu as primeiras políticas de transferência de renda em nível federal foi o governo FHC, quais sejam:
  • Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação – “Bolsa Escola”, instituído pela Lei n. 10.219, de 11 de abril de 2001
  • Programa Nacional de Acesso à Alimentação – PNAA, instituído pela Lei n.10.689, de 13 de junho de 2003
  • Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Saúde – “Bolsa Alimentação”, instituído pela medida provisória n. 2.206-1, de 6 de setembro de 2001
  • Programa Auxílio-Gás, instituído pelo Decreto n. 4.102, de 24 de janeiro de 2002
Por conta disso, a Medida Provisória n. 132, de 20 de outubro de 2003, apenas determinou a unificação dos procedimentos de gestão e execução desses quatro programas que já existiam em um programa único, o qual o PT batizou com o nome de "Bolsa Família"!

Isso quanto às mentiras factuais que estão no comentário. Vamos agora ao raciocínio falseador: é mentira que o Bolsa Família ajudou a enfrentar a crise de 2008-2009, e por uma razão muito simples: programas de transferência de renda, como o próprio nome diz, não criam demanda agregada, pois apenas transferem a renda de algumas pessoas para outras. Logo, não podem funcionar como se fossem políticas de tipo keynesiano para a sustentação dos níveis de emprego e renda! 

O que permitiu ao Brasil enfrentar a crise foram as políticas de saneamento dos sistemas bancários público e privado executadas nos anos FHC, conhecidas respectivamente como PROES e PROER, e a continuidade da politica de juros altos e de geração de superávits primários desse presidente. Esse conjunto de políticas impediu que ocorresse no Brasil o que aconteceu nos EUA e na Europa, isto é, quebradeira de bancos privados por excesso de créditos podres.

Por fim, vale assinalar que o estímulo oferecido pelo Bolsa Família às pequenas cidades do sertão do Nordeste vai na contramão de tudo o que a esquerda sempre defendeu como estratégia para o desenvolvimento regional, desde a fundação da Sudene! De fato, as propostas de esquerda para desenvolver o Nordeste assentavam-se na reforma agrária e na industrialização autônoma, ao passo que o Bolsa Família amplia o consumo local sem alterar a estrutura fundiária e nem desenvolver atividades produtivas que deem autonomia à região. Pelo contrário, muitos pequenos agricultores largaram mão de produzir alimento precisamente por receberem o benefício em dinheiro!

A cara de pau desses autores de comentários em blogs não tem limite!

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4 comentários:

  1. Muito interessante o seu texto. Mas uma coisa me deixou curioso. O sr. falou que o bolsa família não gera demanda agregada porque transfere dinheiro do estado, para outro lugar.
    Me pergunto como se chama o fato de que o "Bolsa Família amplia o consumo local sem alterar a estrutura fundiária". Afinal esse "aumento do consumo local" não é por um acaso demanda agregada?

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    1. O comentário que eu critico nesse post afirma que o Bolsa Família foi importante como política de enfrentamento da crise econômica internacional e que, de quebra, teve efeito importante para desenvolver regiões pobres. Eu argumento que ele não teve efeito nacional algum pelo fato de que esse programa transfere renda de um setor da sociedade para outro sem ampliar a demanda agregada nacional, que é o que qualquer política macroeconômica anticíclica tem de fazer para estimular a geração de emprego. Já em âmbito local, chamo atenção para o fato de que o Bolsa Família é assistencialista, pois não cria capacidade produtiva - pelo contrário, muitos agricultores familiares largaram suas roças por causa da renda auferida com o programa. Por isso mesmo, elogiar o Bolsa Família pelos seus efeitos regionais implica jogar no lixo tudo o que a esquerda intelectual e política afirmou sobre o "problema do Nordeste" no meio século que vai da década de 50 até a chegada do PT ao poder. Afinal, a esquerda sempre disse que o subdesenvolvimento nordestino era causado por problemas econômicos estruturais, especialmente a concentração fundiária e a baixa industrialização.

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    2. O comentário que eu critico nesse post afirma que o Bolsa Família foi importante como política de enfrentamento da crise econômica internacional e que, de quebra, teve efeito importante para desenvolver regiões pobres. Eu argumento que ele não teve efeito nacional algum pelo fato de que esse programa transfere renda de um setor da sociedade para outro sem ampliar a demanda agregada nacional, que é o que qualquer política macroeconômica anticíclica tem de fazer para estimular a geração de emprego. Já em âmbito local, chamo atenção para o fato de que o Bolsa Família é assistencialista, pois não cria capacidade produtiva - pelo contrário, muitos agricultores familiares largaram suas roças por causa da renda auferida com o programa. Por isso mesmo, elogiar o Bolsa Família pelos seus efeitos regionais implica jogar no lixo tudo o que a esquerda intelectual e política afirmou sobre o "problema do Nordeste" no meio século que vai da década de 50 até a chegada do PT ao poder. Afinal, a esquerda sempre disse que o subdesenvolvimento nordestino era causado por problemas econômicos estruturais, especialmente a concentração fundiária e a baixa industrialização.

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    3. O comentário que eu critico nesse post afirma que o Bolsa Família foi importante como política de enfrentamento da crise econômica internacional e que, de quebra, teve efeito importante para desenvolver regiões pobres. Eu argumento que ele não teve efeito nacional algum pelo fato de que esse programa transfere renda de um setor da sociedade para outro sem ampliar a demanda agregada nacional, que é o que qualquer política macroeconômica anticíclica tem de fazer para estimular a geração de emprego. Já em âmbito local, chamo atenção para o fato de que o Bolsa Família é assistencialista, pois não cria capacidade produtiva - pelo contrário, muitos agricultores familiares largaram suas roças por causa da renda auferida com o programa. Por isso mesmo, elogiar o Bolsa Família pelos seus efeitos regionais implica jogar no lixo tudo o que a esquerda intelectual e política afirmou sobre o "problema do Nordeste" no meio século que vai da década de 50 até a chegada do PT ao poder. Afinal, a esquerda sempre disse que o subdesenvolvimento nordestino era causado por problemas econômicos estruturais, especialmente a concentração fundiária e a baixa industrialização.

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