segunda-feira, 24 de junho de 2013

Esquerda investiu no caos e os bandidos tiraram proveito

Não adianta querer eximir certos "movimentos sociais" de esquerda, adorados por nossos professores de história e de geografia, de culpa pelas depredações e agressões que estamos vendo. Mas tem gente confundindo informações para fazer isso, conforme esta passagem de comentário publicado ao post Legitimação da violência nas universidades.
O mais engraçado disso tudo é querer culpar os militantes de esquerda pela violência nos atuais protestos, visto que os militantes do PSTU, PSOL e PCR que ousaram levar bandeiras de partidos para as passeatas foram expulsos e em alguns casos até agredidos pelos demais manifestantes. 
Fica difícil imaginar algo mais ridículo do que atribuir a violência dos protestos a esquerda quando essa mesma esquerda está sendo agredida nesses mesmos protestos.
O comentário ignora, sem querer ou de propósito, as mudanças ocorridas após a deflagração da violência. A responsabilidade pelas arruaças e depredações acontecidas na primeira marcha convocada pelo Movimento Passe Livre – MPL deve-se única e exclusivamente às ideologias de esquerda que informam certos militantes dessa organização e dos partidos radicais que a apoiam. Não foi coisa de meia dúzia de aproveitadores, não. Afinal, o Movimento das Diretas Já levou milhões de pessoas às praças e ruas pacificamente, assim como as passeatas pelo Fora Collor mobilizaram centenas de milhares de pessoas sem gerar violência e depredações. E o mesmo se deu nas várias marchas contra a corrupção ocorridas já com o PT no poder: nada de violência. Em contraste, a primeira marcha organizada pelo MPL em São Paulo, no dia 06 de junho de 2013, reuniu apenas 2 mil pessoas e, mesmo assim, o que se viu foi isto:
Protegidos por barricadas de fogo, cones e lixo, manifestantes fecharam as Avenidas Paulista, 23 de Maio e 9 de Julho, depredaram as Estações Consolação, Trianon-Masp e Brigadeiro do Metrô, além de um acesso da Vergueiro, e destruíram lixeiras e novos pontos de ônibus que foram encontrando pelo caminho. Pelo menos 50 pessoas ficaram feridas, segundo organizadores, incluindo o fotógrafo do Estado Daniel Teixeira (O Estado de São Paulo, 07.06.2013).
Por que os tais aproveitadores não atacaram em nenhum dos outros eventos que mencionei, que eram muito maiores? Nos casos da Diretas Já e das passeatas pelo impeachment, a resposta é que os protestos transcorreram pacificamente porque a esquerda radical representava uma parcela minúscula dos manifestantes e também porque a massa estava saindo às ruas para atacar governos aos quais a esquerda radical se opunha. Já no caso das marchas contra a corrupção, os radicais estavam ausentes por não se incomodarem se houver roubalheira em governos de esquerda. Mas, na primeira marcha promovida pelo MPL, em que os esquerdistas radicais somavam todos ou a grande maioria daquelas 2 mil pessoas, o que se viu foram depredações e violência. Aliás, há alguns dias atrás, 600 pessoas protestaram contra a corrupção em São Bernardo do Campo, bem em frente a um edifício onde o Lula tem um apartamento. E o protesto foi pacífico, já que não havia militantes de esquerda no local. Mais uma demonstração de que a violência está ligada à esquerda radical, que segue as teses defendidas pelos luminares da nossa academia em seus textos, livros, palestras e salas de aula.

O segundo tempo dos protestos

Portanto, a hostilidade contra os militantes do MPL, do PT, PSOL e de outros partidos de esquerda só começou a acontecer no segundo tempo das atuais manifestações, quando uma multidão de pessoas que nada tinha a ver com essa turma decidiu sair às ruas para fazer reivindicações fora da pauta do MPL, como a rejeição à PEC 37 e os gastos exorbitantes com a Copa. Essas pessoas rejeitam a oposição fascistoide de partidos de esquerda que não se incomodam com corrupção em governos de esquerda, mas também não estão satisfeitas com os partidos democráticos de oposição, como o PSDB e o DEM, já que estes também não fazem uma oposição efetiva aos descalabros em curso!

Certo, podem dizer que, em 21 de junho de 2013, sem a presença dos radiciais, houve vandalismo e saques no Rio e em São Paulo. A resposta para isso é que, como a maior parte da imprensa acusou a polícia – especialmente a paulista – de ter agido com violência desnecessária no segundo e no terceiro dias de marcha, fazendo com que se anunciasse publicamente que a polícia ficaria afastada nas mobilizações seguintes, então aí, sim, os aproveitadores perceberam que o caminho estava aberto para roubar e quebrar. 

A violência ideologicamente orientada da esquerda e a complacência de grande parte da imprensa e da opinião pública com esse desmando deixaram o governo politicamente acuado, abrindo caminho para a chegada dos vândalos sem ideologia, que não estavam presentes quando esquerdistas convocados pelo MPL e por partidecos radicais começaram a investir no caos. Quando a polícia se afasta, os bandidos aproveitam, conforme evidenciado nos textos abaixo. E dizer isso nada tem a ver com qualquer justificativa para casos de abusos praticados por policiais, é óbvio. Até porque, a polícia e a justiça já dispõem de mecanismos institucionais para corrigir e punir os abusos, como em qualquer democracia.

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3 comentários:

  1. Caro Luis,
    desde que descobri seu blog tenho lido-o com bastante gosto, satisfeito por encontrar alguém no interior da academia que não apenas discorda do que ocorre, sobretudo, nos centros de ciências sociais e humanas, mas também que não se omite ao assumir uma postura de "cientista" a qual impede de tecer qualquer comentário sobre o que ocorre no mundo ao seu redor. Estes cientistas alegam precisar de mais tempo e mais dado para fazer qualquer comentário, e assim eximem-se de se manifestarem, como se a realidade social não lhes dissesse respeito.
    O incentivo para comentar em seu blog foi a postagem anterior, pois gostaria de complementar com algo que, acredito, ao não ser devidamente sublinhado, provoca comentários como o utilizado para sua postagem, dando a impressão de que críticas como a sua (ou as minhas) são quase paranoicas ou exageradas.
    Eu fiquei 10 anos, entre graduação, mestrado e doutorado, nas áreas de ciências sociais e história em universidade públicas, então tenho algum conhecimento de como as coisas mais ou menos funcionam. Posso dizer que tive pouquíssimos professores que defendiam abertamente ideias de esquerda em sala de aula (talvez eu tenha dado muita sorte), e isto na graduação - na pós não houve nenhum. Em princípio isto significaria que não concordo com suas colocações, mas não é isto, pois acredito que haja professores assim e nos vários níveis (no Rio de Janeiro, acredito que a UFF seja particularmente assim). Imagino que algumas pessoas não entendam suas críticas (como o autor do comentário), pois tentam enxergar uma dominação mais explícita no meio acadêmico, devem imaginar que há aulas como aquela do filme "A vida dos outros", onde o professor/agente da Stasi trata da prática de interrogatórios e afirma aos alunos que "seus prisioneiros são inimigos do socialismo". Afora os casos de violência sobre os quais você já falou, acredito que compreender esta situação da academia requeira uma sensibilidade um pouco maior para determinados vazios e silêncios, geralmente pouco percebidos. (Aliás, estão aí os tabus das pesquisas acadêmicas, e não no funk carioca ou na cultura popular como muita gente gosta de afirmar). Acredito que haja, pelo menos, dois pontos que realçam a existência de certo "esquerdismo" dominante nas áreas de humanidades (mas que passam despercebido por outras pessoas).
    1. naturalização do socialismo/comunismo: a presença de partidos políticos e movimentos de extrema esquerda no interior das universidade, nos CAs e DCEs, com murais para propaganda, com o uso livre do ambiente universitário para encontros, parece ser tido como algo natural ou normal. Espera-se que haja esta presença ali dentro. Ela é normatizada e ninguém se incomoda ou percebe algo de errado. Além do mais, ambos são vistos como coisas inerentemente boas, daí não haver oposição a sua presença, afinal, quem em sã consciência irá se opor a algo que luta apenas pelo que é bom, belo e justo?
    (continua)

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  2. (continuação)
    2. "inconsciente de esquerda": quando falei em vazios e lacunas, tem a ver com este inconsciente. Nós esposamos uma bibliografia com alguma conotação ideológica (de esquerda), mas sem a devida crítica e sem contrapor a outras visões. Nós vamos usar as obras de Eric Hobsbawn e Pierre Bourdieu e simplesmente aceitamos o que de mais ideológico há neles sem chamar atenção para isto. Nestes 10 anos, por exemplo, nunca tive um professor que sugerisse Raymond Aron; ou vi alguma disciplina que pretendesse trabalhar o pensamento liberal. É possível encontrar gente afirmando que a obra de Max Weber é apenas um refinamento das ideias de Karl Marx ou um diálogo com seu fantasma, dando a impressão de que a obra do segundo é mais importante ou superior que a do primeiro, mantendo a primazia do pensamento marxista. Este "inconsciente", que é adequado à mentalidade "progressista" que vemos hoje, sobretudo na internet, é observado na escolha de temas de pesquisa e no tipo de teoria mobilizada para falar bem ou mal do objeto de pesquisa. Cria-se um universo simbólico a partir do qual determinadas ideias e práticas passam a ser consideradas legítimas ou naturais(como defender passe livre e violência), mesmo por pessoas que, penso eu, talvez não se sentissem muito à vontade ao lado partidos/movimentos de extrema esquerda como PSTU, PCO e congêneres (o PSOL é um caso um pouco diferente, pelo menos no RJ, me parece). Neste sentido, concordo com suas colocações. Acredito que falte sensibilidade por parte de outras pessoas (dentro ou fora da academia) para perceber que, muitas vezes, este "stalinismo" é mais sublimado. Tomando de empréstimo uma metáfora de Vilém Flusser, parece que caminhamos no interior de um labirinto de algodão. Nós não sentimos, mas nos perdemos lá dentro e somos afetados por ele.
    Não sei se consegui me fazer claro, não imaginava escrever tanto em um comentário, o que atrapalha bastante uma reflexão um pouco mais rigorosa, mesmo que num tom "ensaístico". Faltou, inclusive, falar da questão da socialização e da vigilância destes pequenos grupos de extrema esquerda no interior da universidade, mas já escrevi demais. Continue com estas postagens verdadeiramente críticas.

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    1. Excelente comentário, Alexandre! Estou de pleno acordo com você. A propósito, você se incomodaria se eu mandasse o seu comentário em um texto único para o Grupo de discussão do Escola Sem Partido? Talvez o coordenador do ESP ache interessante publicá-lo no site.

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