terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Dez anos de imposturas intelectuais e jornalismo dependente

Para pôr as respostas aos comentários em dia, aqui vão algumas considerações sobre um texto para lá de falseador que foi publicado pelo economista João Sicsú, que trabalhou no Ipea durante as gestões petistas, no site da revista Carta Capital (ver aqui). Esse link foi indicado por um leitor em comentário ao post Para citar Che Guevara, o qual me pediu para fazer uma avaliação do artigo. Vamos lá, então!


Bem, como o leitor mesmo já havia percebido, esse texto é "tendencioso" e "mascarado". Não surpreende que tenha sido publicado numa revista de credibilidade duvidosa. Afinal, por ter poucos leitores e espaço de propaganda muito pequeno, essa revista fica dependente de verbas publicitárias do governo Federal para continuar existindo. Entre seus colunistas, estão Mino Carta, que prima pelo jornalismo chapa branca desde a ditadura militar, e Delfim Netto, o dignitário da ditadura que virou "companheiro" depois que o malufismo naufragou. Figura ali, também, Luiz Nassif, cuja empresa, Dinheiro Vivo, foi à falência, mas pôde saldar dívidas graças a um empréstimo do BNDES. Não vou me alongar nesse ponto, mas indico três textos pertinentes ao assunto:
Imposturas

O conteúdo tendencioso do artigo é demonstrado facilmente quando se comparam as incoerências dos argumentos com a forma absolutamente coerente com que tais argumentos são úteis ao projeto de poder do PT. O autor começa dizendo que o Brasil viveu mudanças econômicas e sociais profundas sob os dez anos de poder petista, mas em nenhum momento indica quais foram as reformas estruturais que os governos Lula e Dilma teriam executado para produzir tanta transformação. E ele se omite quanto a isso por saber que o PT não realizou nenhuma reforma econômica ou social profunda, pois apenas deu continuidade ao que já vinha sendo feito nas gestões tucanas, a saber:
  • A mesma política macroeconômica do segundo mandato de FHC (câmbio flutuante, metas de inflação e de superávit primário)
  • Continuidade das políticas de transferência de renda instituídas em 2001, hoje incluídas no Bolsa Família
  • Política fundiária idêntica, mas aplicada de um modo tão casuísta que fez aumentar a violência no campo (já tratei disso aqui, aqui e aqui)
  • A mesma reforma da previdência (ver aqui)
  • Privatização de serviços de infraestrutura
Justamente pelo fato de não ter havido mudança estrutural alguma é que os méritos que o autor atribui ao PT não pertencem a esse partido. Isso fica claro quando ele afirma que o PT teria inaugurado um "modelo de crescimento com geração de emprego e distribuição de renda". Na verdade, pesquisas realizadas pelo Ipea, com base nos dados da PNAD, revelam que a queda da desigualdade de renda teve início em 1995, acelerando-se a partir de 2001. No primeiro ano do governo Lula, 2003, a desigualdade caiu ao mesmo tempo em que houve aumento da pobreza, já que, nesse ano, a classe média perdeu mais ainda do que os pobres. No biênio 2004-2005, em que a pobreza voltou a diminuir, a desconcentração de renda perdeu velocidade em relação ao período anterior à chegada de Lula ao poder (Hoffman, 2006).

Em suma, é falso que os governos de Lula e Dilma tenham inaugurado um novo modelo de desenvolvimento e é falso que a redução da pobreza e da desigualdade sejam uma novidade trazida pelas gestões petistas. O que o PT faz é dar continuidade ao que já vinha de antes, mas com muita incompetência  (volto a isso noutra postagem).

Nesse sentido, João Sicsú toca as raias do cinismo quando afirma que a oposição não tem projeto alternativo para o Brasil. Na verdade, quem não tem projeto é o PT, que apenas acomoda os interesses patrimonialistas e fisiológicos de seus militantes e da sua "base alugada" dentro dos limites dados pela política econômica herdada de FHC.

E é mais cinismo ainda afirmar que, por não ter projeto, a oposição tenta aumentar a rejeição à Lula e Dilma com denúncias de "corrupção, alianças espúrias (com velhos corruptos), incompetência, voluntarismo, autoritarismo, ingerência política em empresas estatais, enriquecimento ilícito, indicações políticas (e não técnicas) para cargos públicos, obras paralisadas, filas no SUS, desperdício de recursos públicos e possibilidade de racionamento de energia elétrica". Ora, uma vez que o PT governa com a agenda do PSDB, resta às oposições mostrar que esse partido não tem competência para executá-la e que os interesses que o PT representa também não são compatíveis com a construção de um Estado eficiente e democrático, o que fica bem evidenciado por todos esses descalabros que João Sicsú resumiu em poucas linhas. Eu não resumiria melhor...

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HOFFMAN, R. Queda da desigualdade da distribuição de renda no Brasil, de 1995 a 2005, e delimitação dos relativamente ricos em 2005. In: BARROS, R. P.; FOGUEL, M. N.; ULYSSEA, G. (org.). Desigualdade de renda no Brasil: uma análise da queda recente. Brasília: Ipea, v. 1, 2006.

3 comentários:

  1. Luis, mais ou menos relacionado ao tema geral deste post, apareceu hoje no facebook uma capa da Folha de São Paulo de 1998, em que a manchete dizia: "Deputado conta que votou pela reeleição por 200 mil" e a chamada ainda dizia que, segundo o deputado (do PFL) mais 4 também teriam recebido. Pois bem, abaixo desta capa da FSP de 1998, acompanha o seguinte texto:
    "MENSALÃO DE FHC COMPLETOU 20 ANOS.

    Já faz 20 anos que o mais escandaloso caso de mensalão de que se tem (pouca) notícia na história desse país, começou a ser engendrado.

    Se trata naturalmente, da vergonha para a aprovação da reeleição de FHC. Coisa que a maioria da mídia ou ignorou solenemente, ou noticiou muito pouco. Pois claro, estava no bolso do rei daquela ocasião. E como imprensa NENHUMA no Brasil sobrevive sem mamar (seja de que forma, for) nas tetas de qualquer governo, claro, calaram a boca.

    Mas o mensalão chinfrim do PT, virou tese de doutorado e debate diuturno já há 7 anos. E como bem foi noticiado, o mensalão do PT pagava uns míseros 2, 3 mil reais por mês para o deputado aprovar programas de governo, para os quais tais parlamentares deveriam votar (a favor ou contra) no simples exercício da função de legislador. Em outras palavras, o Governo subornava os parlamantares para eles trabalharem, já que apesar de ganharem muito bem pra isso, não faziam.

    Não é que devamos ser tolerantes com alguma corrupção só porque ela é menor do que outra. Ao contrário, temos que ser taxativos e intolerantes contra qualquer corrupção, inclusive aquela feita pelas elites toscas deste país chamado Brasil.

    Mas pelo que vemos, nem o STF, nem os "procuradores" federais (o que será que eles procuram?) estão interessados num mensalão que não lhes renderá holofotes, visto que a imprensa não noticiará, porque atinge seus maiores financiadores.

    E o zé povinho, ingênuo de tudo e manipulado, faz auê no Facebook a cada condenação ou absolvição contra o partido do Zé Dirceu."

    Será que poderia comentar essa defesa petista? Gostaria de saber sua opinião sobre esse tal mensalão tucano e a tal privataria tucana. Muito obrigado.

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    1. O texto contém tantas mentiras cínicas que é impossível saber se foi escrito por uma viúva da revolução (essa gente como Marilena Chaui, Ana F. A. Carlos, Emir Sader, etc.) ou por um desses militantes do PT que recebe dinheiro para aparelhar a internet. Quando eu estiver com um pouco mais de tempo, vou ver se escrevo um post sobre isso.

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    2. Agradeço pela atenção em comentar o link (em forma de postagem, no caso), professor.

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