Tempos atrás, uma pessoa que leu um artigo que publiquei no site Escola Sem Partido me convidou por e-mail a escrever um artigo sobre o problema da doutrinação no ensino de geografia, o qual saiu publicado na revista Conhecimento Prático Geografia. Não me ofereceram qualquer remuneração por esse trabalho, muito embora se trate de revista produzida por editora privada e vendida em bancas de jornal, e nem eu solicitei qualquer pagamento.
Bem, a primeira conclusão do artigo é que, como o sistema brasileiro de ensino foi estruturado sob a ditadura fascistoide de Getulio Vargas, a geografia escolar tradicional acabou sendo usada como instrumento de doutrinação patriótica, tal como os geógrafos críticos sempre denunciam. A segunda conclusão é que a geocrítica, embora se apresente como anti-doutrinadora, nada mais faz do que impor uma doutrinação teórica e ideológica de esquerda disfarçada por um discurso pluralista que não se realiza nos livros didáticos e nem nas salas de aula.
Até aí, tudo bem. Pouco tempo depois, fui convidado por outra pessoa que trabalha nessa revista, igualmente por e-mail, a escrever um artigo sobre os atentados de 11 de setembro numa perspectiva geográfica. Recusei o convite com o argumento de que não sou especialista no assunto - só faltava mesmo eu mudar meus temas de pesquisa para produzir artigos sob encomenda sem receber nem um tostão furado por isso! Contudo, me ofereci a publicar um novo artigo sobre o problema da doutrinação e, mais uma vez, sem pedir qualquer pagamento. Esse novo trabalho complementaria o primeiro fazendo uma análise dos inúmeros equívocos que os livros didáticos pautados pela geocrítica contêm. A pessoa ficou muito animada com a proposta e, assim, mandei-lhe o novo artigo. A resposta foi o silêncio...
Por que será que nunca mais fizeram contato para tratar do novo texto? Não pode ter sido por má qualidade, já que ele dava continuidade a outro que a revista já tinha publicado. Talvez seja porque o novo artigo mostrava, com base em estatísticas oficiais, que os livros didáticos de José W. Vesentini estão repletos de incoerências, manipulação de dados e até erros grosseiros de conceituação e de interpretação de dados estatísticos. Eu até já mostrei um desses erros neste blog, como se pode ler aqui.
Se alguém tiver uma hipótese melhor para explicar o caso, que me conte. De minha parte, infiro que a revista tenha avaliado que os professores de geografia que compram a revista não ficariam satisfeitos em ver seu ídolo Vesentini ser criticado de forma tão contundente e com base em informações irrefutáveis. Isso tem tudo a ver com o que escrevi no post anterior sobre os meios materiais de divulgação de ideias, já que empresa privada publica revistas sempre de olho no mercado. Ah, essas contradições do capitalismo...
"Pouco tempo depois, fui convidado por outra pessoa que trabalha nessa revista, igualmente por e-mail, a escrever um artigo sobre os atentados de 11 de setembro numa perspectiva geográfica. Recusei o convite com o argumento de que não sou especialista no assunto ..."
ResponderExcluirBem, Diniz, tu já deves imaginar como isto ocorre nas redações e departamentos acadêmicos: o sujeito enxerta a teoria ou corpo ideológico do qual é adepto inconfesso e pontua aqui e ali com alguns fatos de conhecimento público (veiculados pela mesma "imprensa golpista" que acusam...). O negócio é simplesmente engrossar o coro e, por mais que se tente fazer o contraponto, a calúnia funciona como cinzas jogadas ao vento, que se disseminam facilmente, até porque a mentira tem características de bordão facilmente repetido.
Mas, como disse Castro, "a história me julgará"... Só que no nosso caso, provavelmente, diferente dele.
Infelizmente, é assim mesmo que acontece. Jornalistas procuram sempre amparar seus textos em opiniões de especialistas, mas a forma como escolhem os tais "especialistas" é para lá de criticável. E estes, por sua vez, aproveitam a leviandade dos jornalistas para divulgar ideologias e calúnias disfarçadas de pesquisa séria. Lamentável...
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